27/01/2009

Quanto custa para a Humanidade manter o capitalismo existindo?

Lula Falcõn
Nº 101, Decembro/2008 - Xaneiro/2009



Em novembro, a crise geral do capitalismo continuou se aprofundando e os governos seguiram firmes em seu propósito de utilizar o dinheiro público para salvar bancos e monopólios falidos. Nem mesmo a teimosia da crise em não só se manter como se agravar após cada novo pacote bilionário anunciado pelos governos capitalistas, fez qualquer dos presidentes –ou melhor, executivos da classe capitalista – duvidar da eficiência desse caminho para evitar o avanço da recessão no mundo. De fato, os EUA tiveram este ano uma queda de 3,5% no PIB (Produto Interno Bruto). No Japão e na União Européia, a queda deve ser de quase 2% e as economias da Índia e da China também se desaceleram. Mesmo assim, todos os chefes de Estado, sem pestanejarem, continuam seguindo os dogmas do principal país capitalista do mundo, os EUA, e sua fé cega no deus-mercado, isto é, na oligarquia financeira mundial.

Até o dia 29 de novembro, o total de dinheiro público utilizado pelo governo dos Estados Unidos para salvar suas empresas capitalistas ultrapassou os US$ 8,56 trilhões, duas vezes mais do que o país gastou na Segunda Guerra Mundial. Somente em um dia, 25 de novembro, US$ 386 bilhões foram gastos para salvar da falência o Citigroup, um dos maiores conglomerados financeiros do mundo. Mas, mesmo após receber US$ 27 bilhões em dinheiro e ter vendido ao Tesouro americano, US$ 306 bilhões de seus papeis “podres”, isto é, de títulos que nunca serão pagos, o Citi manteve sua decisão de demitir 52 mil trabalhadores. Lembremos que este mesmo Tesouro se recusa a pagar assistência médica para os 40 milhões de norte-americanos pobres que vivem sem acesso à saúde.

A França, também mergulhada na crise, desistiu de esperar o pacote conjunto da União Européia e no dia 25 de novembro lançou um fundo estatal de 20 bilhões de euros (cerca de R$ 60 bilhões de reais) para ajudar empresas em dificuldades. "No dia em que não construirmos mais trens, aviões, carros e navios, o que restará da economia francesa? Memórias. Não vou deixar que a França vire uma reserva turística", disse o presidente Nicolas Sarkozy para justificar a doação do dinheiro do povo aos empresários. A medida, porém, não impediu que a Peugeot Citroen anunciasse a demissão de 2.700 trabalhadores.

No dia 16 de novembro, tinha sido a vez da Itália divulgar que vai gastar 80 bilhões de euros (101,5 bilhões de dólares) para ajudar seus monopólios e bancos quebrados.

No dia 27 de novembro, saiu o plano da União Européia. Um pacote de 200 bilhões de euros (mais de 580 bilhões de reais) para socorrer empresas e tentar diminuir a recessão nos 27 países do bloco europeu. “Os empregos e o bem-estar de nossos cidadãos correm perigo”, declarou o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso.

A China, mesmo depois de anunciar um pacote de 4 trilhões de iuanes (R$ 1,25 trilhão) está com centenas de siderúrgicas e grandes obras imobiliárias paradas, e no sul do país, 15 mil fábricas fecharam suas portas, a maioria delas sem nem mesmo pagar o salário dos operários. Na cidade de Dongguan, no dia 26 de novembro, 1.000 operários demitidos, sem receber os salários, destruíram várias viaturas policiais e o escritório da empresa. Para evitar mais protestos, muitas prefeituras têm pago os salários atrasados.

Segundo o presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, até novembro, a fortuna queimada nas bolsas de valores de todo o mundo foi de US$ 29 trilhões. Some-se a essa montanha inimaginável de dinheiro, mais outros trilhões de dólares gastos este ano pelos governos para salvar a oligarquia financeira mundial e suas indústrias e bancos, e teremos quase o total de todas as riquezas produzidas no planeta em um ano.

E vem mais “ajuda” para os ricos por aí

As miseráveis montadoras norte-americanas General Motors, Ford Motors e Chrysler pediram ao Congresso e ao governo dos Estados Unidos uma ajuda de US$ 50 bilhões. O argumento é simples: “O colapso das montadoras levará à demissão de 3 milhões de operários e é uma ameaça à segurança nacional, pois em caso de novas guerras, os EUA teriam de confiar em montadoras de outros países para produzir veículos militares”, declararam em audiência no Senado os presidentes das Três Grandes.

G-20 - louvores ao capital

Para proclamarem sua fidelidade a esse fracassado sistema econômico, os chefes de Estado das 20 maiores economias capitalistas do mundo, entre vinhos da Califórnia, costelas de cordeiro assadas ao tomilho e variadas sobremesas, e tendo George W. Bush como mestre-de- cerimônias, reuniram-se no dia 15 de novembro em Washington. Este encontro, classificado pelo presidente do Brasil como “um marco na história do século XXI, produziu uma declaração final que afirma:

“Estamos determinados a reforçar a nossa cooperação e a trabalhar em conjunto para restaurarmos o crescimento mundial e realizarmos as reformas necessárias ao sistema financeiro do mundo. Guiará-nos em nosso trabalho a convicção comum de que os princípios do mercado, das economias abertas e dos mercados financeiros corretamente regulamentados favorecem o dinamismo, a inovação e o espírito indispensável ao crescimento econômico, ao emprego e à redução da pobreza.” (Declaração final do G-20)

A vida, porém, mostra o contrário do que afirmaram esses senhores. Quanto mais se desenvolve o capitalismo, mais vemos se acumularem imensas fortunas nas mãos de uma reduzida minoria, enquanto, do outro lado, bilhões de pessoas sofrem com os baixos salários e com o desemprego e vivem na pobreza.

Com efeito, somente 1.125 bilionários do planeta detêm em suas mãos a renda de metade da população adulta da terra, isto é, de 3,3 bilhões de pessoas.

Não bastasse, segundo o ex-relator especial da ONU sobre o direito à alimentação, o sociólogo suíço Jean Ziegler, a cada cinco segundos uma criança abaixo de dez anos morre de fome, e a fome continua a ser a principal causa de mortes no planeta.

Nos Estados Unidos, país onde reinam “os princípios do mercado e das economias abertas”, 240 mil trabalhadores foram demitidos em outubro, totalizando 1,2 milhão de pessoas que perderam o emprego em 2008 e, de 2006 até novembro de 2008, 5,6 milhões de famílias foram despejadas de suas casas e não têm mais onde morar.

Após anunciar que 20 milhões de trabalhadores ficarão desempregados no próximo ano, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou em 26 de novembro o relatório mundial no qual prevê que os salários vão diminuir em 2009 na maioria dos países. “Para 1,5 bilhão de trabalhadores do mundo, se aproximam tempos difíceis. O crescimento lento ou negativo, juntamente com os preços muito instáveis dos alimentos e da energia irão corroer os lares pobres.”, declarou o diretor geral da OIT, Juan Somavia.

Contra tudo isso, é claro que se levantarão os trabalhadores unidos e organizados por sua vanguarda. Entretanto, diante de tantos números sobre o crescimento da pobreza e do desemprego no mundo e das fortunas entregues pelos governos capitalistas aos milionários e exploradores dos trabalhadores, é indispensável a pergunta: além das guerras pela conquista do petróleo, de diamantes e dos mercados, quanto custa para a humanidade manter o capitalismo existindo?

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