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Textos

A crise do capital e geopolítica
08/09/2010
Comunicação ao VI Seminário Internacional de Luta contra o Neoliberalismo

Aluisio Pampolha Bevilaqua
Editor-chefe do Jornal Inverta


A crise do capital que voltou a se manifestar nesta primeira década do século XXI (2007-2010), intimamente associada à sua ocorrência na década final do século XX (1997-1999), se desdobrou em implicações que abrangem não apenas a economia mundial, mas também a política e a ideologia, como se fez notar na produção e reprodução do capital, nas transformações políticas e crise de paradigmas teóricos vividos pela sociedade humana, neste início de século (KRUGMAN, 2009).


A crise do capital, que se manifestou como desdobramento do período de globalização dos anos 90, sob a teoria econômica neoliberal, ao contrário da aparente solução predicada pela velha terapêutica macroeconômica de intervenção do Estado na Economia - o remendo econômico keynesiano- como se constatou em 2002, com a bancarrota da Nasdaq, não passou de mera ilusão.


A Nova Economia tão propagada como resultado da globalização e da revolução informacional, que prometia um mundo sem fronteiras, democracia como valor universal, a sociedade pós industrial, fim das classes sociais e do comunismo, o que ofereceu de concreto para toda a humanidade, neste novo século, foi a guerra imperialista, o terrorismo e golpes de estado, nova expansão neocolonialista, a crise econômica, que beira à depressão, e a insegurança geral de confronto hegemônico que ameaça com uma guerra nuclear a extinção da vida no planeta (BEVILAQUA, 1998).


A crise que atinge o centro do imperialismo, os Estados Unidos, denuncia a sua falência hegemônica e incapacidade de articular instrumentos e mecanismos capazes de superar as contradições que evisceram suas estruturas socioeconômicas e poder político (2009, IDEM). Denuncia também a falência da ciência voltada para os objetivos do Capital e sobretudo o esgotamento da forma histórica da sociedade capitalista e seu modo de produção de riqueza social, cuja transcendência implica métodos bárbaros à sua sobrevida e sacrifícios desumanos para cerca de 80 por cento da população mundial, em particular, a que coabita os países dependentes e submetidos ao seu sistema de exploração e opressão.


Conceitualmente, a crise que se instaurou no final do século XX, voltando a se manifestar no início e no final desta primeira década do século XXI, deve ser definida como uma crise de transição no modo de produção e forma histórica dominantes de sociedade. Ela transcende a condição de uma crise dentro dos limites estruturais do capitalismo, que historicamente se apresenta em decorrência da lei geral da acumulação capitalista através dos ciclos econômicos industriais, da superprodução em contradição à superpopulação relativa, configurando a disfunção da correspondência entre produção, consumo e circulação, implicando a perda de dinamismo, impedimento da acumulação ampliada e crise de realização visíveis na tendência decrescente da taxa de lucro, indicando o default ou crise geral do sistema (MARX,1986). Rompe essa esfera porque apresenta traços do esgotamento das forças produtivas desenvolvidas e contidas no seio do próprio modo de produção capitalista, tais como: o esgotamento da ciência burguesa em desenvolver teorias capazes de ultrapassar os limites à ampliação da exploração da força de trabalho, seja através da mais valia absoluta e, sobretudo, da mais valia relativa, intensiva e extensivamente, por sobre a sociedade global. Também se observa o esgotamento do capital, como trabalho objetivado (mercadorias, como meio de consumo e meio de produção), como símbolo de riqueza universal (dinheiro) e suas funções (meios de pagamento, meios de circulação e capital de empréstimo) e capital como propriedade, isto é, acumulação de bens sobre o estatuto da propriedade privada. Observa-se ainda o esgotamento da força de trabalho humana na forma de trabalho assalariado como potencialidade produtiva, a medida que seus limites naturais, quebrados na revolução industrial pela invenção da máquina e métodos de organização do trabalho, atingiram o auge com a revolução informacional, gestando-se seus limites produtivos de forma absoluta, como denuncia o redundante e cada vez mais gigantesco exército industrial de reserva, no qual não só a população masculina toma parte, mas também a população feminina, jovens, e prematuramente velhos (MARX, 1977).


Todas essas forças produtivas criadas no curso histórico da formação, desenvolvimento e consolidação do modo de produção capitalista já haviam apresentado seus limites na passagem do século XIX ao século XX, na forma de contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas e relações de produção em termos globais. Este processo resultou na passagem da forma estrutural do capital, da livre concorrência ao monopólio, alterando o papel e função do estado na economia, conduzindo à Primeira Guerra imperialista, de 1914 a 1917, cujo desdobramento foi, por um lado, o surgimento do comunismo como sistema social, em que o modo de produção e as relações sociais se apresentam como forma superior ao desenvolvimento da sociedade humana; por outro lado, a reforma geral do sistema capitalista e tentativa de equalizar, redimensionando o emprego das forças produtivas dentro dos limites dinâmicos do processo de produção e relações sociais desiguais do capital (LENIN, 1986).


Contudo, a partilha do mundo que se desdobra da I Guerra Mundial não contempla o dinamismo do desenvolvimento desigual do capital nos diversos países, que em função da nova forma de organização imperialista, torna-se ainda mais dinâmico, conduzindo à nova crise de hegemonia mundial e recomposição de mercados e fontes de matérias-primas, necessários à expansão econômica destes novos centros capitalistas. Karl Marx, em 1870, já havia assinalado que os EUA se constituíra na economia mais dinâmica do capitalismo. A Alemanha também se tornara um centro dinâmico, assim como o Japão e a Itália. E é nesta lógica que toma curso a II Guerra Mundial, que ao final faz valer o discurso de Roosevelt no que se refere à ideia de uma nova ordem mundial de expansão do capital, qualitativamente intensiva (MÉSZÁROS).


A crise do capital, de 1929 a 1933, que refletira novamente os limites das forças produtivas capitalistas desenvolvidas no marco estreito das relações sociais e territoriais dos países capitalistas mais dinâmicos, consolidou o novo centro de poder do capital e sua estrutura imperialista, os Estados Unidos, afirmando a tendência do novo papel e função do estado na economia, sob o paradigma teórico do keynesianismo. Esta nova conformação histórica do capital desenvolveu as estruturas globais da hegemonia financeira, comercial, política e militar, que permitiram um novo processo de expansão do sistema no curso da guerra fria até o início da década de 70.


Porém, nesta nova fase no desenvolvimento histórico da sociedade, o capital passa a conviver com a sua contradição fundamental, objetivada na forma de modo de produção e organização social antagônica à sua finalidade lógica de produção e reprodução social. A União Soviética que surge da Revolução russa, de 1917, do cerco vivido durante suas primeiras duas décadas de existência, com o fim da II Guerra Mundial apresenta-se para a humanidade e o proletariado dos países mais desenvolvidos e subdesenvolvidos, como alternativa de modo de produção e vida comunista ao capitalismo, implicando uma profunda alteração nas relações econômicas e na geografia política mundial. Estabelece uma fronteira geográfica em que as relações capitalistas perdem seu dinamismo sistêmico intrínseco, subordinando-se à dinâmica da revolução socialista em expansão na Europa, na Ásia, na América Latina e África, sob as condições historicamente singulares do desenvolvimento das relações capitalistas nestes países. A luta pela hegemonia mundial, que se expressa no confronto entre capitalismo e comunismo, se sobrepõe às contradições internas de classe e entre as potências imperialistas no sistema do capital. Amplia enormemente a presença do Estado como sustentáculo fundamental do equilíbrio dinâmico do sistema (produção, consumo e circulação), destacando-se o setor de defesa em termos de comunicação, produção de material bélico e contingentes militares apoiados em centros de ciência e tecnologia. Além disto, a gestão do controle repressivo das contradições internas, da disposição estratégica para defesa e ofensivas contra o comunismo e intervenção de caráter imperialista em todas as regiões de conflito. O complexo industrial militar alterou a dinâmica do sistema do capital, conduziu ao desvio da ciência, alterando a própria lógica da produção capitalista, o lucro, transformando-o em acumulação de potencialidade autodestrutiva, passando a ameaçar toda a vida humana no planeta (MÈSZÁROS, 2005).


Esta deformação do sistema do Capital se por um lado, obteve um relativo sucesso na manutenção do sistema frente à alternativa comunista desenvolvida pela URSS – conduzindo-a a mesma lógica cujos efeitos foram sua desestruturação e trágico desaparecimento no final da década de 80 - por outro lado, conduz também o sistema do capital a romper os limites de sua estrutura sistêmica, transcendendo o equilíbrio das relações metabólicas entre a produção social e a natureza, implicando a conjugação da crise geral (disfunção de todos os fatores constituintes do sistema - produção, consumo e circulação) como uma crise de transição do modo de produção, pelo esgotamento das forças produtivas criadas pelo próprio modo de produção (trabalho assalariado, capital, ciência e educação) e uma crise de caráter ambiental pelo esgotamento de forças produtivas naturais como petróleo, água e fertilidade dos solos, cujo desdobramento sintetiza-se numa crise geral dos paradigmas da humanidade frente ao seu produzir e viver, em equilíbrio metabólico, social e natural (CASTRO,1999).


A crise do capital que apresenta-se na década de 70, considerada crise energética, que levou à disfunção do capital dinheiro, se projetando na crise dos anos 80 das dívidas externas, e falência definitiva do keynesianismo como terapêutica ao equilíbrio do sistema, conduziu à mudança de paradigma da economia política no imperialismo para o neoliberalismo. A prédica neoliberal de redução do estado ao mínimo através da privatização; aplicação das conquistas tecnológicas da revolução informacional, através da desregulamentação e flexibilização do trabalho; liberação do fluxo de capitais financiando a reestruturação da produção e do consumo, impulsiona o processo de globalização da década dos 90 sobre as economias dos países do ex-bloco socialista do leste europeu, conduz o capital a romper os limites da crise cíclica, geral, estrutural, levando à crise de transição, ambiental e de paradigma existencial humano.


Portanto, a crise do capital que se manifesta no final do século XX e início do século XXI constitui-se numa crise de terceira geração prevista genialmente por Marx desde os Grundisse, passando pela Contribuição à Crítica da Economia Política, de 1859 e culminando em sua obra magna O Capital (1867); é a previsão da crise que corrobora Lênin em sua obra O Imperialismo e que tem encontrado uma substancial linha de continuidade em investigação e formulação em Fidel Castro, através da sua comunicação Uma Revolução só Pode ser Filha da Cultura e das Ideias, de 1999. As recentes contribuições em torno desta temática que encontram-se nas publicações de Para Além do Capital, de Mèszáros (2002), Mais Além do Capital, de Michel Lebowitz (2005), Conceito Dialético de Crise, de Antunes e Benoit (2009), A Teoria Marxista das Crises, de Simon Clarke (1994). Destes trabalhos que tratam como tema principal ou secundário a crise do capital em geral ou a atual, o que pode ser considerado em termos sintéticos é que com exceção do livro de Mèszáros e Lebowitz, que seguem uma linha revisionista e com pretensões a concluírem a obra inacabada de Marx, as demais contribuições, preconizam uma linha escolástica, presa às citações de Marx ao contexto histórico de suas formulações, portanto, sem uma conformação teórica crível de explicação para a forma geral, particular e singular com que o fenômeno da crise apresenta-se na atualidade.


A crise como fenômeno objetivo, que se apresenta em uma conjuntura histórica em que o capital proclama a vitória sobre o socialismo e a luta de classes, ostentando como troféu a desintegração do campo socialista do leste e da União Soviética, além da cooptação das principais lideranças e partidos de outrora oposição nos centros e periferias do sistema, não só confirma a teoria do capital formulada por Marx e continuada por Lênin, como demonstra a completa falência das teorias burguesas. Isto se pode confirmar pelos recentes trabalhos de Paul Krugman, De Regresso da Economia da Depressão (2009); A Irracional Exuberância do Capital, de Schelling (2005); A Globalização e seus Malefícios (2002), de Stiglitz; dando lugar ao renascimento do marxismo nos países avançados do capitalismo: Alemanha, França, Inglaterra, Estados Unidos, como se observa nos movimentos intelectuais de retomada da obra de Marx, seja em torno do Grundisse (1857-58), da Contribuição para a Crítica da Economia Política , e do Capital, a exemplo do lançamento da coletânea de textos em comemoração aos 150 anos do Grundisse, organizado por Eric Hobsbawn, na Inglaterra (2009), bem como o recente lançamento da coletânea de textos A Ideia do Comunismo, organizada por Baddio e Zizec, na França (2010). O recente lançamento em mídia digital de O Capital, de Marx, na Alemanha, esgotou-se rapidamente, como noticiou a Deutsche Welle (2010), entretanto, há que se observar que esta retomada da obra de Marx tem sido capitaneada por intelectuais prestigiados pela academia burguesa e conduzida para uma releitura de Marx sumamente revisionista, em que dilui a importância da luta de classes e o caráter revolucionário da abordagem teórica, a exemplo de Mèszáros e Michel Lebowitz, a partir dos Grundisse.


É importante notar também, no caso do Mèszáros que assume abertamente uma posição de continuador da obra de Marx, cujo o leit motiv é a formação de uma teoria de transição ao socialismo, tendo por substrato a sua tese de crise estrutural o notório esvaecimento das categorias marxistas pela introdução de categorias do idealismo objetivo hegeliano e esquartejamento da teoria conceitual de Marx do capital. A arbitrária desestruturação da lógica dialética da análise de Marx, absolutizando suas partes em concepções unilaterais e contrapondo-as umas às outras com emendas, ora extraídas da obra de Rosa de Luxemburgo, ora de Herbert Marcuse, ora de Baran, ora de Lukács, para fundamentar sua formulação da Taxa de Utilização Decrescente, como lei tendencial que supera todas as leis desenvolvidas por Marx e Lênin, como quintessência da nova dinâmica de auto expansão ampliada do capital. Na verdade, não passa de uma dedução do fenômeno da mais valia relativa na dinâmica da reprodução ampliada de capital, traduzida no fenômeno da redução do tempo necessário e da obsolescência tecnológica. A ideia da crise estrutural como decorrente da ultrapassagem dos limites absolutos do modo de produção, uma ideia derivada do próprio Marx formulada desde o Manifesto Comunista e reiterada no Grundisse e no Capital, da tendência a encarar todos os limites como barreiras a ultrapassar; a ideia do capital como modo incontrolável de controle sócio metabólico em função desta tendência não é mais que uma nova terminologia para reconfiguração do conceito de capital; finalmente, sua tese da superação do conceito de mercadoria em Marx, com base na formulação de que o capital não necessita do valor de uso para realizar o valor de troca acaba por corroborar com a distorção ideológica da economia política vulgar, de que é possível dinheiro ser igual a mais dinheiro, isto é, a “produção” e realização de valor de troca sem o valor de uso.


Este esboço de crítica à formulação de Mèszáros, deveria ser objeto de reflexão nos dias atuais, em que a re-emergência do marxismo se tornou visível e alternativa a uma estratégia real de luta pela revolução comunista em vários países, que na nova conformação geopolítica passam a se construir em alternativa ao paradigma de modo de produção e sociedade capitalista, a exemplo da Venezuela, Bolívia, Nicarágua. Também deveria ser objeto de reflexão em países cujo desenvolvimento desigual do capital apresenta, diante da crise, uma possibilidade de salto mortal sobre as amarras que o subordinam a um papel secundário e de extrema opressão sobre sua população, tais como Brasil e Índia. A crise de transição pelo esgotamento das forças produtivas do capital e sua transcendência ao esgotamento das forças produtivas naturais criou uma conjuntura favorável para países cujas riquezas naturais compõem-se de recursos estratégicos em matéria -primas, como o petróleo, a biodiversidade, mananciais de água potável, reservas territoriais cultiváveis, entre outros, o que os tornam visivelmente alvos de importância geopolítica nos planos contingentes geoestratégicos do imperialismo, tanto norte-americano quanto europeu. Portanto, acreditar que uma revolução comunista só se poderia efetuar mediante uma revolução de todos os países simultaneamente, como afirma Mèszáros com base na Ideologia Alemã, escrita por Marx e Engels ao tempo que o centro do capitalismo basicamente consistia na Europa, é reduzir a teoria marxista a uma caricatura daquilo que veio a consistir, após pesquisa e trabalho teórico maduros, em O Capital.


A geopolítica deve ser considerada conceitualmente como uma ciência da disposição natural e social do poder estratégico, defensivo e ofensivo dos países em relação à sua localização geográfica, recursos naturais, populacional, e de desenvolvimento tecnológico, que varia no curso histórico, segundo as transformações geográficas naturais, territoriais, e da sociedade humana. Desde os primeiros movimentos de expansão global que versam a história escrita, é visível na narrativa de Homero e singularmente Heródoto esta estreita relação entre a geografia e o artifício da guerra: obras de Aristóteles, que fundamentam a expansão helênica de Alexandre; as narrativas do cerco de Aníbal à Roma; o clássico Décadas de Tito Livio, de Maquiavel; ou escritos em torno da unificação do império chinês, como o clássico Arte da Guerra, de Sun Tzu; até a que se traduziu no clássico de todos os tempos como Da Guerra, de Carl Von Clausewitz. Contudo, como formularam Marx e Engels, no estudo sobre os exércitos e se pode notar com bastante nitidez no livro magno da economia política clássica, A Riqueza das Nações, de Adam Smith; a organização militar e o modo de produção burguês constituem ligações indissolúveis. Marx e Engels afirmam que a própria instituição militar adiantou as formas do modo de produção capitalista. Hobbes ao teorizar sobre o Leviatã, estabeleceu esta clara relação entre a geopolítica defensiva sobrepondo as bases da geografia natural pela geografia humana, em organização social e estado de guerra e transição. Portanto, pensar a geopolítica equivale a pensar em termos do desenvolvimento tecnológico e social, em escala sempre crescente em relação à geografia natural.


Em linhas gerais, pode se considerar que a geopolítica evolui das considerações estratégicas com base na expansão terrestre que conformam os primeiros movimentos históricos de globalização de Alexandre, Gengis Khan e Aníbal, e que em termos continentais do mundo atual, as várias regiões no globo interligadas possibilitam a disposição de poder estratégico terrestre. Entretanto, com a passagem do modo de produção antigo e medieval ao capitalista sobressai muito mais a aplicação de força marítima no qual a Inglaterra tornou-se poder hegemônico durante os séculos XVIII e XIX. Na virada do século XIX ao século XX a corrida aeroespacial elevou a disposição de forças aéreas a um papel de maior relevância em torno de ofensiva e controle aeroespacial e dos movimentos terrestres. Contudo deve se observar que toda tecnologia, inclusive a mais destrutiva de todas, a tecnologia nuclear, para finalidade da guerra, depende de forma contumaz das matérias-primas da qual se constituem e alimentam seu poder de destruição efetiva. A dimensão geográfica natural continua apesar de toda tecnologia a exercer o primato sobre este poder, mas há que se chamar a atenção para o fator ideológico desde os escritos de Sun Tzu à ideia de inteligência militar, emprego de espiões, e o trabalho de comunicação que exerce um fator de grande relevância em termos geopolíticos e, finalmente, o fator que surge com a luta de classes no capitalismo, e luta de resistência dos povos ao imperialismo - de forma mais efetiva e cientificamente pensada - das guerras irregulares, onde tecnologia natural se sobrepõe à tecnologia de laboratório, a exemplo da guerra do Vietnã, considerada um paradigma em termos da ideia de guerra de todo povo, teorizada por Gyap, sobre as condições do emprego da própria geografia e recursos naturais, na defesa e libertação de um país.


A crise do capital diante de tal evolução do pensamento geopolítico, tornou-se uma grave ameaça para a humanidade. A tecnologia nuclear desenvolvida pelos países capitalistas mais avançados, socialistas e ex-socialistas, tornou-se um ponto de desequilíbrio geopolítico insuperável, sob o qual a soberania dos estados nacionais constituiu-se em quimera, demandando uma corrida inquebrantável por tal tecnologia. A tentativa de controle da expansão da tecnologia nuclear se torna cada vez mais infrutífera, por um lado, pela dissolução da URSS; por outro, pela aplicação da tecnologia militar, desenvolvida no curso da guerra fria, através do complexo industrial militar à produção capitalista em geral. O fim da guerra fria revelou a superprodução de material bélico e nuclear, aplicável não apenas à bomba atômica, mas adaptado até mesmo às armas convencionais, como as bombas com aplicações de urânio, que causaram destruição em massa na recente guerra do Iraque e Afeganistão. Assim, a crise do capital exige um levante geral da humanidade. O capital cuja personificação se cristaliza na classe proprietária dos meios de produção e da guerra, a burguesia, não pensa em entregar toda a riqueza material usurpada da classe operária e assalariados em geral, em ato de resignação de consciência. Quem esperar ou acreditar em uma revolução pacífica ou em revolução simultânea em todos os países, jamais conseguirá se libertar “do círculo vicioso do capital”. Stálin está morto, mas durante sua direção estratégica a URSS pode dissuadir o desinterato autodestrutivo do capital e sob esta condição foi possível avançar a revolução e a luta de classes em vários países do mundo, inclusive Cuba, e China que desponta no cenário mundial, em termos geopolíticos, como gestora de um paradigma de desenvolvimento econômico e social distinto do modo de produção dominante do capitalismo imperialista em crise terminal. Um aliado que deve ser considerado dentro de uma estratégia geopolítica revolucionária para o continente latino-americano, cujas condições naturais geográficas e desenvolvimento econômico e tecnológico, inclusive da tecnologia nuclear, podem potencialmente abrir uma nova alternativa para os povos dos países desta região, que se torna cada vez mais o alvo de uma ação imperialista, a exemplo da que ocorreu no Oriente Médio e Ásia Central.


O Brasil no contexto da crise de transição do capital e das novas determinações geopolíticas, a exemplo da Venezuela e Bolívia, passou a desempenhar um papel estratégico, tanto para os planos imperialistas de superação da crise, especialmente os EUA, quanto para o projeto de libertação e construção de uma alternativa ao paradigma econômico e sistêmico do capitalismo. São alvos cruciais de um plano de contigência geoestratégica de superação da crise e de sustentação da hegemonia estadunidense, tendo em vista os fatores produtivos naturais em esgotamento visível na crise, tais como os recursos energéticos: petróleo, gás natural e biomassa, em aparente abundância; os recursos hídricos, as reservas de terras cultiváveis, e reservas de biodiversidade, além do desenvolvimento populacional e tecnológico em certas áreas estratégicas de exploração, produção, e aplicação desses recursos naturais. O Brasil ainda por sua dimensão territorial, e desenvolvimento econômico, destaca-se ainda mais por sua instrumentalização estratégica, como alternativa de expansão do capital neste momento de crise. Entretanto , é necessário analisar mais profundamente este quadro, pois uma das características fundamentais da crise é o seu deslocamento de região para região, como já expressei no trabalho apresentado em 1998 sobre o tema A Crise do Capital na Ásia, e logo, cedo ou tarde, ela voltará a se abater com força total no continente; e o Brasil, necessariamente, viverá uma conjuntura de profundas dificuldades diante do círculo de fogo do imperialismo.


Esta concepção da crise como processo permanente por sua condição geral, que se desloca de região para região por todo o globo, está em profunda contradição com as ideias da possibilidade de um salto mortal do desenvolvimento capitalista no país, capaz de sobrepassar os limites como barreira de sua dependência econômica e a subserviência histórica de suas classes dominantes ao imperialismo europeu revigorado, e atualmente, aos Estados Unidos. O projeto que embala a ideologia das oligarquias no poder de fato do país, inspiradas na tese geopolítica de Golbery constituem-se não mais que em uma fábula, pois carece da estrutura contraditória da bipolaridade e da conjuntura pretérita de guerra fria. Embora deva ser reconhecido que os elementos arrolados como plataforma de negociação geopolítica do Brasil com o imperialismo, consubstanciada nas riquezas potenciais geográficas e populacionais, político e estratégicas, constituem de fato uma realidade, hoje não apenas potencial mas relativamente efetiva, o que coloca uma nova barreira a este salto mortal, tão fortemente difundido nos círculos dominantes, isto é, o próprio confronto com o capital imperialista em crise. Nestes termos, o dilema nacional se encontra aprofundado em dimensão maior, opondo aos objetivos do povo brasileiro, em especial da classe operária, de construir uma alternativa de sistema social e modo de produção e vida, alternativos ao do capital e o projeto das oligarquias de negociar o país e relativo poder efetivo, por uma participação e reconhecimento no espólio do capitalismo global sob a tese inverossímel da integração soberana na globalização neoliberal, no contrapeso da crise, isto é, uma expansão subordinada com maior participação no capital global.


Se as oligarquias imaginam tirar partido da crise atual da mesma forma que o governo de Getúlio Vargas se utilizou da crise de 1929-33, e trabalham para conduzir o país para este objetivo, então, o povo brasileiro, em especial, a classe operária, está chamado a desempenhar um papel histórico inédito: organizar-se para por abaixo o poder dos seus algozes, que nesta conjuntura de crise terão todo o poder do imperialismo, inclusive, uma possível intervenção para levar a cabo um projeto entregista, cujo único destino a oferecer é a crise e a guerra. Tal conclusão decorre da noção de que a história não se repete, ou é tragédia ou farsa. Imaginar que nas condições da crise do capital atual, seria possível extrair vantagens das oligarquias financeiras hegemônicas no mundo é enganar a si próprio e através do engano, se verdadeiro, enganar o povo, pois nos planos de contigência dos EUA a Amazônia é parte de seu mapa.


Deste modo, algumas tarefas fundamentais que se apresentam para as forças revolucionárias em nosso país podem ser expressas nos seguintes pontos: a primeira, lutar pela desmistificação da ideia de que o Brasil poderá se sobrepor, a exemplo da China, aos países hegemônicos, pois ao contrário da China, o Brasil não realizou uma revolução; sua tecnologia nuclear é controlada e limitada, e sua soberania não passa de quimera e tendo em vista, que cedo ou tarde, a crise exigirá uma posição decisiva do país, a visão do conflito está dada. A segunda tarefa fundamental é lutar pela unidade dos povos latino-americanos e para que o Brasil se perfile objetivamente a Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador, na construção de uma alternativa conjunta fundamental ao paradigma econômico e sistêmico ao capital, que só pode ser desenvolvido sob o paradigma do comunismo. A terceira é a necessidade de forjar a unidade do povo brasileiro sob a liderança da classe operária e da sua vanguarda revolucionária através de uma unidade estratégica, organicamente articulada por uma frente de luta contra o neoliberalismo, o imperialismo e o capitalismo. E a quarta, que é o aprofundamento da organização dos quadros, que deve chegar às regiões estratégicas do país, ampliar o seu poder de comunicação com o povo, e formação revolucionária à altura de desempenhar sua tarefa histórica de condução do processo revolucionário junto com o povo. Em termos de ações concretas que viabilizem estas tarefas, deve se compreender que o ato de conscientização do povo não se traduz apenas em divulgar as ideias revolucionárias para fazê-lo compreender a necessidade de um levante geral, é necessário também trabalhar sua organização nos mais distintos espaços de convívio e trabalho do povo, bem como sua formação política, teórica e prática, através do movimento de luta, apoiando-se nas contradições do seu cotidiano de trabalho, estudo, moradia e lazer; e, finalmente, condensar em plataforma de luta, suas necessidades mais imediatas, aguçadas pela crise ao objetivo histórico, que é a revolução.




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1 Comments:
  • At 8/31/2011 05:57:00 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Reflexão muito plausível e muito explicativa da realidade histórica actual. Muito bom.

     

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